As sociedades indígenas não teriam sobrevivido à dominação colonial - seja ela manifestada por meio das guerras e dos descimentos, dos aldeamentos missionários, da apropriação privada de terras de uso comum, do indigenismo tutelar e do sistema de reservas - se fossem estruturas rígidas e homogêneas, fechadas em si mesmas e mantivessem uma profunda aversão à mudança e a processos estatizantes. É a sua heterogeneidade e complexidade, as contradições que a alimentam, as ambiguidades que instituem e a plasticidade que possuem que lhes propicia um dinamismo constante e regenerador. Resistir ao mundo colonial, no caso, não é manter-se exatamente igual ao que era antes, mas continuar a agir como uma relativa unidade e ser capaz de dar sentido às experiências vividas e transmiti-las à geração futura.