No Brasil de inícios do século XX, o desencanto da intelectualidade brasileira com a República recém instalada ecoa na letra de Euclides da Cunha em “Os sertões”. Ali o “sertão” é definitivamente alçado a um problema na consolidação de uma nação que se quer moderna. Movido pelo desejo de intervir nos sertões com as armas da ciência, o Estado brasileiro cria em 1909 a Inspetoria de Obras Contra as Secas, que mobiliza cientistas estrangeiros, médicos e engenheiros para levar o progresso aos sertões. Ainda pouco conhecida do grande público, Kleiton de Sousa Moraes conta a história dessa missão que corporifica o desejo de intelectuais e cientistas que, tal como Euclides da Cunha, se colocaram a tarefa de criar uma nação forte a partir do sertão. Para tanto, além de lidar com os constrangimentos de uma República dominada por oligarcas, tiveram que construir representações dos sertões que reafirmassem sua missão. O autor mostra que – buscando se contrapor às imagens dos sertões produzidas pela literatura – os relatórios, fotografias e memórias produzidas pelos homens da Inspetoria fundavam um novo olhar sobre o espaço sertanejo balizado pelo olhar do cientista. Ao tentar desencantar o sertão, porém, os cientistas por vezes eram tomados pelos seus próprios encantamentos.