Urupês, Cidades mortas, O macaco que se fez homem, Negrinha e O presidente negro são as obras de Monteiro Lobato para adultos reunidas em uma caixa especial que acaba de chegar às livrarias pela Editora Globo. Nesses livros, o autor se apresenta por completo em suas ideias progressistas. Ele admirava o desenvolvimento dos Estados Unidos e se aborrecia imensamente com o desperdício de oportunidades que via no Brasil, terra de caipiras e de bacharéis com cheiro de naftalina. Lobato era um dínamo e queria romper a todo custo com esta estagnação. Apesar de ser mais conhecido por sua obra infantojuvenil com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo, Lobato foi também um importante ativista político, que liderou as campanhas do petróleo, da construção de usinas siderúrgicas - além de lutar pelo fundamento da democracia representado pelo voto secreto. Dono de um estilo afiado e irônico, em seus livros de contos faz um retrato devastador do homem do campo atacado por todas as doenças e pela falta de educação e de recursos ao descrever o triste personagem do Jeca Tatu. Também volta sua atenção à sua região natal, o Vale do Paraíba, onde encontra as "cidades mortas", paradas no tempo, vivendo das glórias passadas dos barões do café. Um dos livros mais curiosos de toda bibliografia do autor está nesta caixa: sua única ficção científica que, muito curiosamente, prevê a eleição de um presidente negro para um futuro distante nos Estados Unidos da América. Redescobrir o Lobato polemista, engajado, ativista é fazer valer um pouco seus sonhos: de um Brasil forte e independente, que consiga fazer uso de toda a potência que a natureza colocou em seu território para enfim criar uma nação desenvolvida. É, ainda, se deliciar com um estilo de prosa arguta que remete à melhor produção do último século.