Álvaro García Linera é um dos autores latino-americanos mais ativos nesses anos do novo século; ele funde em uma síntese cotidiana três faces de sua atuação política: intelectual marxista, dirigente político e governante. Com uma vasta produção intelectual que conta livros, artigos e aulas, suas principais preocupações teóricas giram em torno do pensamento latino-americano e dos desafios dos povos, particularmente dos indígenas. Seguindo a mesma trilha de intelectuais como José Carlos Mariátegui, cujo marxismo não desconsidera as particularidades da América Latina como a questão indígena, por exemplo, García Linera procura interpretar a realidade boliviana a partir da teoria social de Marx e o legado político e histórico deixado por ele. Tal perspectiva se constrói a partir de sua inserção, desde os tempos de juventude, nos processos de luta e resistência popular na Bolívia, buscando no estudo do pensamento clássico as ferramentas e os referenciais para compreendê-los. Neste livro, García Linera parte da compreensão de que a revolução é um processo e não apenas um momento que se coloca ao longo da história das sociedades mas que só pode ser concretizado pela ação dirigida de uma organização política dedicada a pensá-lo e a construí-lo. É a partir dessa compreensão que ele analisa a Revolução Russa de 1917 e o seu legado histórico. Nesse sentido, ele reflete sobre as dificuldades enfrentadas por Lenin na consolidação do Estado soviético tanto em termos sociais quanto econômicos. Assim, a lição histórica que podemos tirar desse processo, segundo Linera, é a necessidade e a possibilidade da organização dos de baixo destruir as instituições e mecanismos de dominação estabelecidos e construir novos instrumentos, provisórios, que permitam o desenvolvimento social de um novo modo de produção regido não mais pela exploração de um ser humano por outro, mas sim pelo princípio: De cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades!