Dizia Marx que a educação dos cinco sentidos é trabalho de toda a história universal até agora, idéia retrabalhada entre nós pela poesia de Haroldo de Campos e pelo ensaio de Roberto Romano. Educação retomada pelo livro de Jorge Lucio de Campos quanto às metamorfoses do olho, da visão e do espaço. Metamorfoses de uma paisagem – a montanha de Sainte-Victoire e as suas sessenta versões através dos olhos e das mãos de Cézanne; metamorfoses da percepção individual da espacialidade, na psicologia genética de Piaget e sua idéia não apriorística e construtiva da visualidade; metamorfoses dos padrões históricos da expressão visual e da leitura do espaço pelas diferentes cosmologias – de Parmênides e Demócrito à modernidade passando por Aristóteles ou o Quattrocento, a que Jorge Lucio nos conduz através do eixo de estudos Riegl-Cassirer-Panofsky. Em todo o percurso de mudanças, a afirmação de que a história das artes visuais reclama por um lado a especificidade e o detalhe que permitam divisar a sua espessura própria, seus sistema próprio de signos, e por outro esteja em relação com o movimento geral da cultura e da filosofia, a sucessão das formas de ver e pensar o mundo, das Epistémes segundo o conceito foucaultiano. Espessura que favorece as relações não mecânicas e não simplistas entre contexto sociocultural e formas de percepção e expressão visual, como no poema de Sebastião Uchoa Leite em que o Nordeste da Infância se retrata na pintura de Klee Algumas coisas tem linha desigual As barracas populares Do nordeste com seleções cromáticas Desiguais: igual em Paul Klee E como diz ainda o poeta Há uma linha que atrai Oculta na profusão cromática Linha da inteligibilidade do visual, linha que Jorge Lucio de Campos persegue com sucesso – Do Simbólico ao Virtual, um livro da Coleção Debates da Editora Perspectiva.