Na última década, finalmente, a obra de Lúcio Cardoso (1912-1968) começa a ser avaliada de acordo com o valor e a importância que realmente tem. Se seus romances têm ganhado novas edições, o mesmo não ocorreu com sua dramaturgia, que permaneceu inédita em sua quase totalidade. E o teatro não foi um interesse lateral de Lúcio Cardoso. Durante quinze anos ele se dedicou fortemente ao gênero, numa experiência com o texto dramático que o conduziu também ao cinema. O volume Teatro Reunido traz pela primeira vez ao público leitor o fruto desse esforço de Lúcio Cardoso. Todas as oito peças completas que o escritor deixou estão reunidas neste volume. O escravo, O filho pródigo, A corda de prata, Angélica, O homem pálido e Os desaparecidos (em três atos), além de Auto de natal e Prometeu libertados (em um ato). Escrita em 1937, O escravo representou, segundo Sábato Magaldi, o primeiro esforço de integração do teatro brasileiro na modernidade. Mais do que esse dado cronológico, porém, vale destacar o quanto o teatro está integrado à obra romanesca de Lúcio, como afirma Antonio Arnoni Prado no posfácio. Afinal, nas peças, tanto quanto no romance, a linguagem tensa, as situações extremas (como definiu Sérgio Buarque de Holanda), a inquirição sobre a natureza humana marcam uma obra que se coloca entre as mais decisivas de nossa literatura no século XX.