Em sua trajetória histórica em busca de identidade e legitimação, toda cultura produz artifícios e artefatos narrativos para contar para si mesma certas histórias a serem aceitas e lembradas e outras a serem rejeitadas e esquecidas. São narrativas que tentam sempre, mas frequentemente de forma precária, ocultar a violência característica do ato de separar o bem formado, o branco e o civilizado, que devem ficar do lado de dentro, do deformado, do escuro e do primitivo, que devem ficar do lado de fora. Ou vice-versa. São, em todos os casos, histórias mal contadas porque contaminadas pela angústia que, normalmente, aparece como subproduto da tentativa mal-sucedida de ocultar a violência.