Este livro esclarece pontos fundamentais da aproximação entre o jornalismo e a literatura - suas diferenças e semelhanças, a questão da narrativa, do ficcional e do factual, as possibilidades de entrelaçamento de discursos - e assume uma perspectiva atenta aos textos e aos contextos históricos de produção. Com um estilo convidativo. Marcelo Bulhões analisa as ricas possibilidades de ligação entre as duas áreas: inicia pelos prenúncios do "romance-reportagem" no século XIX - preconizado por "escritores vestidos de repórteres" como Émile Zola, na França, e Aluísio Azevedo, no Brasil - e termina pelos libelos e as denúncias de episódios dramáticos da vida social e política brasileira, na obra de José Louzeiro, Zuenir Ventura, Ivan Ângelo, Patrícia Melo, Paulo Lins e Caco Barcellos, entre outros. Ao traçar esse panorama, o autor lembra a figura instigante do repórter-flâneur, nas décadas iniciais do século passado, quando João do Rio faz do jornalismo uma experiência compatível com a realização literária. Décadas depois, Joel Silveira e Nelson Rodrigues fazem uma opção radical por um jornalismo de feição literária, e João Antônio vale-se da experiência acumulada como repórter na construção de um estilo peculiar que retrata a fala de pobres-diabos e malandros. O autor dedica ainda um capítulo ao New Journalism, a vertente que explorou encontros estimulantes entre jornalismo e literatura surgida nos Estados Unidos nos anos 60 pelas mãos de Tom Wolfe e Gay Talese, entre outros. Essa prática exerceria grande influência sobre jornalistas de boa parte do mundo, até mesmo os brasileiros que criaram a revista Realidade.