No início do século XX, contudo, a clínica psiquiátrica era essencialmente uma clínica do olhar, e o surgimento da psicanálise demarcou, com muita clareza, a ênfase em uma clínica da escuta. Este precioso livro de Angelina Harari condensa, de forma serena, o norte dessa transformação ocorrida na clínica da psicose, ou melhor, mostra como Lacan, ainda preso à fenomenologia, ruma das realações de compreensão presentes em sua tese de doutoramento de 1932 em direção às relações simbólicas, nas quais, valendo-se dos ensinamentos de Ferdinand de Saussure, encontra os meios para reformular a distinção entre significante e significado, e daí se dirige para o que se conhece como sua segunda clínica, fundada na inexistência do Outro, no caráter não deficitário da psicose, na articulação do sinthome e na introdução do escrito na fala do sujeito.