Os contos de Sangrem os porcos, depenem os frangos carregam consigo não só a crueza de um país em ruínas, mas também personagens que tentam sobreviver em um meio miserável e brutal. Aqui, Deus escutou seus filhos insaciáveis por justiça e lhes entregou de bandeja vingança e ira. Não há esperança neste universo, nem nas tramas secas e afiadas como facão, nem na linguagem imperdoável e que em alguns momentos reproduz com exatidão uma oralidade vindoura de um Brasil profundo, esquecido, invocado das vielas. Ivandro Menezes ilumina essas trevas de becos, expondo aquilo que nos negamos a ver no dia a dia e apresentando corpos que nunca serão homenageados: crianças mortas, mães sádicas, homens que precisam se prostituir para ganhar alguns trocados, travestis violadas, casais vivendo no inferno do cotidiano, rebeliões de presidiários, e um grande leque de seres aprisionados no labirinto da vida, desencantados, mortos por dentro.