Auguste Comte (1798-1857), filósofo inovador e fundador de igreja, está atualmente um pouco esquecido, ainda que no Brasil sua doutrina, o positivismo, tenha chegado a difundir-se como razão de Estado. Sua obra, testemunho de uma ambição sociopolítica bastante moderna, merece, no entanto, ser redescoberta. Inscrevendo-se no movimento deslanchado pela revolução industrial e pela generalização dos conceitos científicos, Comte queria, de fato, acelerar a unificação da sociedade em escala planetária, descobrindo o 'sistema' do saber e do poder dessa nova configuração histórica. Comte criou a 'sociologia' com a finalidade de teorizar e realizar um tipo de organização social que não seria nem individualista nem opressiva. Em seguida, edificou uma 'religião positiva', um tipo de socioantropologia, articulando os componentes da atividade humana (masculino/feminino, espírito/razão, etc.) num dispositivo de simulações recíprocas, com a finalidade de orientar saber, desejo e trabalho rumo à 'deusa Humanidade'... Nesse livro, Laurent Fédi busca restituir a profunda originalidade do positivismo de Comte, sem mascarar alguns de seus aspectos inquietantes, a fim de incitar à leitura de um autor cuja influência sempre se fez sentir nos domínios científico, religioso e 'ideológico'.