Mente e sofre o autor que, ao escrever novo livro, pensa livrar-se do anterior. Palavras, escritas ou faladas, têm tanto de ranço quanto de rosas. Tanto expurgam quanto exalam. Tanto batem até que furam, dos tímpanos aos bofes. Patrícia Porto sabe disso. Possui o manejo. Tem as mãos adestradas ao ofício, mas chuta as panelas, rasga a nesga da saia a navalha, aumenta a chama a ponto de incendeio, erra a pitada do tempero. Por isso, quando me pediu que escrevesse uma orelha para este livro, reagi com ironia: Ora, ora, Patrícia... Não te farei apenas a orelha. Te faço escuta. Sonora escuta, porque os poemas de Cabeça de Antígona como, aliás, toda a poética de Patrícia Porto é de uma musicalidade que beira ao absurdo. Provoca desvario. Então, não se surpreendam que, cabocla e maliciosamente, sua Antígona se assemelhe a uma ribeirinha ancuda terçando um coco, um tambor de Mina, um samba de roda. Assim ela põe Antígona e Ogum no mesmo terreiro: ...