O livro composto de ensaios individuais independentes, mas com pressupostos metodológicos e objetivos científicos comuns, apresentados ao público brasileiro na excelente tradução de Sérgio Lamarão, professor da UERJ -, retoma uma linha de pesquisa aberta por Rusche Kirchheimer em Punishment and Social Structure (1939), que demonstrou a relação mercado/prisão e propôs a tese de que cada sistema de produção descobre o sistema de punição que corresponde às suas relações produtivas. Em criminologia, essa linha de pesquisa é crítica porque insere as questões do crime e do controle social na estrutura econômica e no sistema de poder político e jurídico das sociedades contemporâneas, pensadas com as categorias teóricas desenvolvidas pela tradição marxista, fundadas no conceito de modo de produção da vida social, que exprime a integração das forças produtivas materiais em determinadas relações de produção históricas, nas quais se manifesta a luta de classes da formação social capitalista. Em poucas palavras, a relação cárcere/fábrica evoluiu para a simbiose fábrica/cárcere, que fundiu essas instituições em uma unidade arquitetônica punitiva/produtiva, com a fábrica construída como cárcere, ou o cárcere erigido em forma de fábrica, a realização definitiva do ideal de exploração do trabalho pelo capital, na perspectiva da intuição de Pavarini: os detidos devem ser trabalhadores; os trabalhadores devem ser detidos.