O senhor Calvino atira-se do alto de mais de 30 andares a tempo de alcançar seus sapatos. Calça o direito e depois o esquerdo. No ar, enquanto cai, tenta encontrar a melhor posição para apertar os cadarços. Já vê o chão, quando lembra-se da gravata - apanha-a no ar e depois dá as voltas necessárias para o nó. Chega ao chão impecável. Assim, vertiginosa, é a leitura de 'O senhor Calvino', neste sonho que é passaporte para o universo cuidadosamente elaborado por Gonçalo M. Tavares. Em sua escritura sobre um certo senhor Calvino, também morador de 'O bairro', Gonçalo diverte-se em esticar as fronteiras do possível para arrancar seus paradoxos.