Manifesto aberto à estupidez humana é um livro extremado. Tem a radicalidade da lucidez e da loucura e a contundência das obras que desafiam a expectativa de quem lê com um discurso inesperado e um cenário desconcer-tante. O uso provocativo da segunda pessoa, no inventário de atos, sentimentos, posições exem-plarmente estúpidas, estabelece relação intensa e pessoal entre quem fala e quem lê. Com grande poder persuasivo, o discurso pode levar o leitor da estupefação à adesão. Convém estar atento a isso. É uma das armadilhas do texto. Se, em suas linhas, você passar a identificar a estupidez de colegas, vizinhos, parentes, amantes, cuidado! Pois desse modo estará negando ao texto sua principal qualidade: o de ser uma superfície refletora. Quando a imagem de tantos conhe-cidos emergirem dessas páginas, não se iluda e não se prive de participar da aventura de Narciso às avessas que o texto propicia. Este livro fala também de você e da vida que está lhe escapando. Outra cilada se arma, se tentar descobrir quem fala. Não se trata de um censor nem de um mestre moralista. O livro foi composto por um discurso que a cultura - a despeito das religiões organizadas e das famílias, dos saberes e das autoridades constituídas - não conseguiu sufocar. Em plena época dos relativismos que tudo legitimam, Ezio Flavio Bazzo expõe um modo insolente e apaixonado de pensar, movido pelo questionamento dos valores. Evocando fragmentos das obras de Nietzsche, Cioran, Tzara, Malatesta, Marinetti e, também, de Tolstoi, Ibsen, Dostoievski, Thoreau, Cocteau e Canetti, uma voz, com arrebatamento e firmeza, deboche e emoção, elegância e desleixo, raiva e ternura, faz uma advertência contra as falácias que perseguimos e a inten-sidade que não conseguimos viver.