() Faz bem Paulo Henrique Teston ao iniciar do exórdio da justiça no pensamento ocidental, onde o sentido de justiça aparece como uma ontologia. Em Anaximandro, a justiça está ligada à dimensão mais pura da vida (talvez a vida nua, de W. Benjamin). A injustiça nasce daquele separar-se do apeiron, daquele nascer que é separação da unidade. Nasce ali o sentimento judaico cristão de culpa que exige renascimentos, retribuições. E é sempre dali que nasce aquela dimensão de justiça que joga entre a origem e o a-vir. A justiça exige a recuperação do que foi subtraído na origem; como no Angelus imaginado por Paul Klee, que lança voo ao futuro, mas tem o olhar voltado às ruínas do passado. Tem razão P.H. Teston em recolocar a justiça no difícil plano da vida, no qual a mera contabilidade tem relação com as existências concretas, com as esperas sem expectativas inesperadas, com a culpa da injustiça, mas com a abertura para um mundo de possibilidades. Aqui, a desconstrução está no trabalho reabrindo os significados excluídos, mas não eliminados, que a história do pensamento sedimentou. Reabri-los é o meritório dever de Paulo, que o fez com mais percepção que nunca, sem tender (ter) uma reconstrução definitiva.