Por que sentimos o que sentimos? Temos a clara impressão de que somos completamente passivos em relação àquilo que sentimos: se alguém nos irrita supomos de imediato que essa pessoa é irritante e não nos ocorre, porém, que só é possível àquele indivíduo ser irritante quando nós próprios somos irritáveis. Ou seja, tendemos a enxergar apenas uma parte do fenômeno afetivo, justamente a parte em que somos passivos, impotentes. Há uma longa tradição na história do pensamento ocidental que sustenta essa perspectiva de passividade das emoções. Os gregos chamavam de pathos o fenômeno que hoje chamamos de emoção. Pathos significa justamente passividade, aquilo que sentimos sem que possamos fazer qualquer coisa para não sentir ou para sentir de outra forma. Nossa concepção atual é uma herança direta da concepção grega. Este livro, no entanto, é uma investigação sobre a medida em que somos ativos nas emoções, ou seja, sobre a medida em que escolhemos aquilo que sentimos. Mais precisamente, uma tentativa de compreensão tanto da intencionalidade constitutiva das emoções, quanto da afetividade constitutiva da intencionalidade. Imaginar que a intencionalidade seja também afetiva é bastante intuitivo, pois, não raro, percebemos nossas intenções permeadas de desejo, amor, medo ou confiança. No entanto, supor que as emoções sejam intencionais é imaginar que quando desejamos, amamos, tememos ou confiamos, o fazemos intencionalmente e essa é uma ideia geralmente contra intuitiva, porque a intenção se manifesta na escolha e não nos percebemos como capazes de escolher aquilo que sentimos. Como é possível então que as emoções sejam intencionais? Esse trabalho se propõe a responder justamente essa questão.