Terceiro livro de Ivan Hegenberg, Puro enquanto é também o mais ambicioso. Foram cerca de dez anos de trabalho, tendo como ponto de partida a anotação de centenas de sonhos. Com influências ecléticas a ponto de abarcar beatniks, Clarice Lispector e James Joyce, o livro se projeta em linguagem própria, tortuosa como o universo onírico. A narrativa se faz pelo avesso, com um mergulho no inconsciente do qual emergem contornos e acontecimentos tão intensos quanto voláteis. O personagem, em coma, duela contra a dificuldade de despertar, de enfrentar a aspereza da realidade. Por vezes, o mundo dos sonhos pode parecer um refúgio ideal – quando os pesadelos não estão à espreita. Não é sem perdas que tentamos acordar, porém mesmo a poesia tem seu lugar posto em xeque. Puro Enquanto se faz (e se desfaz) entre a vontade de evasão e a implacabilidade da vida. As palavras escoam, nem prosa nem poesia, entidades plásticas, em diálogo com as pinturas e desenhos do autor, artista visual de formação. A poesia das palavras e das imagens se afirma e se retrai continuamente, testando a legitimidade de sua própria ilusão. O leitor encontrará em Puro Enquanto um sonho fugaz e uma tentativa de despertar.