A segunda metade de Setecentos representa para as bibliotecas portuguesas um tempo maravilhoso, que teve o seu auge entre 1795 e 1803 quando surge a Real Biblioteca Pública da Corte. Havia em Portugal muitas bibliotecas, muitas delas superiormente munidas de livros, algumas delas de iniciativa régia, mas em meados do século XVIII os seus procedimentos e organização não evidenciavam sinais de modernidade. Os cuidados e a atenção parecem concentrar-se na provisão desmedida de livros alcançada mercê da generosidade real. Com o Terramoto, a soberba Livraria Real desapareceu. D. José tenta colmatar a lacuna, compra bibliotecas a particulares, consegue contribuições várias mas o que ele está a preparar é ainda outra Livraria Real. A concretização do projeto de uma grande biblioteca pública cabe a D. Maria, tendo sido preciso fazer quase tudo a partir do zero. A forma como a Real Biblioteca irá evoluir demonstra que houve uma intenção política na decisão régia. A organização, estrutura e missão da Real Biblioteca atribuem-lhe uma responsabilidade idêntica à de outras instituições setecentistas na construção do Estado moderno.