O título A vida sem graça de Charllynho Peruca já diz: a vida dele é sem graça mesmo. Mas, por trás de uma aparente monotonia nas andanças do menino que entrega sanduíches da lanchonete do pai, surge um relato sensível das esperanças, sonhos e trapalhadas do jovem Charllys. Bem que este livro também poderia se chamar São Paulo, a cidade sem graça. Porque, ao contrário do que acontece geralmente, seu centro histórico é apresentado sem enquadramentos favoráveis, que revelam tesouros escondidos. Também não explora ângulos apelativos, "denunciando" suas mazelas. Não, Não. Seu roteiro é mais sutil e humano. Nada de itinerários pitorescos, nada de turismo. Nada de óculos 3D, microscópios ou cenografia. Aqui, tanto São Paulo quanto Charllynho só podem ser enxergados pela medida dos nossos olhos. Agora pense bem: existe modo melhor para se ver de verdade alguma coisa, seja ela a geografia de uma cidade ou a paisagem sentimental de menino?