Olhe bem as montanhas de Minas é a palavra de ordem de Manfredo de Souzanetto usada para denunciar a destruição das montanhas de Minas. Com esta atitude de vanguarda, Manfredo emerge no cenário artístico brasileiro, nos anos 1970, durante o governo da ditadura militar. As montanhas surgem nos desenhos e aquarelas, apresentando a sensualidade de corpos que se entrelaçam. Transformam-se em intervenções nas paisagens dos parques e florestas, registradas pela Câmara fotográfica, através do olhar do artista conceitual. Mas Manfredo é também o artesão, como ele próprio diz "... sou um homo faber, tenho a facilidade e a inteligência de trabalhar com as mãos". Ele trabalha na construção de seus relevos, usando chassis de madeira fragmentados e telas de juta, onde experimenta a pintura com pigmentos naturais retirados dos minérios das terras de Minas. Suas pesquisas continuam direcionadas para a paisagem, partindo da representação e registro da paisagem até o trabalho da paisagem enquanto cor, "é a cor natural da montanha, dos minérios oxidados, que vai corporificar a pintura, tornando-a paisagem". Manfredo vive e estuda em Paris, entra em contato com o circuito artístico europeu, onde compreende a importância do contexto histórico e cultural na formação do artista. De volta ao Brasil, estabelece seu ateliê no Rio de Janeiro, mas elege Minas Gerais como o lugar que possibilita a criação de sua poética, centrada na paisagem e situada na fronteira entre o geométrico e o orgânico, a pintura e a escultura, o bidimensional e o tridimensional, ampliando o campo das experimentações artísticas. O depoimento de Manfredo de Souzanetto, registrado neste livro do Circuito Atelier, revela sua trajetória exemplar, desde as observações da infância no Norte de Minas até a construção das esculturas e instalações atuais. Mostra também a importância do ateliê enquanto "o lugar onde as coisas germinam, o lugar de gestação da obra", o lugar da criação artística. Este lugar é ainda a sua própria casa, a residência do artista, o lugar onde a arte se encontra com a vida cotidiana. Deixamos para o leitor o prazer de descobrir, através da fala do artista e das imagens de seus trabalhos, o conhecimento e a sensibilidade de Manfredo diante do contexto cultural contemporâneo.