O problema que se apresenta para o autor de O Anticristo é duplo: levar a bom termo um ataque fulminante contra o projeto de domesticação das finalidades vitais arregimentado pela moralidade cristã e, ao mesmo tempo, excedê-lo positivamente. No presente estudo, pretende-se investigar as condições de possibilidades teórico-especulativas da vertente positiva da transvaloração de todos os valores e indicar que a dupla ambição que cruza a polêmica "anticristã" não se perde nas águas de sua própria corrosibilidade. Cumpre revelar, por fim, que tais condições foram viabilizadas e asseguradas precisamente porque fizeram, no corpo e no sangue de Nietzsche, a experiência de extrapolar o seu âmbito exclusivamente conceitual.