Tira a calcinha do meio da bunda, termina de arrancar o esmalte, faz um sanduíche com o resto da geladeira e entra aqui. Que o último a chegar não é a mulher do padre. Aqui não tem padre. A proclamação da vulgaridade é uma fé bem cachorra, passando um esfregão no mundo, numa procissão de latidos. Eu leio assim latindo. No meio da proclamação, vemos duas mãos. que sorte: minhas cicatrizes preferidas ficam uma ao lado da outra. Mão esquerda com a queimadura de cigarro que a avó fez na neta, mão direita com a mordida do cachorro impedido de perseguir uma pizza da dona. Seja lá qual das duas for a mão com que a poeta Mila Teixeira escreve, há um lembrete: perto do destino tem sempre uma bobagem. Um personagem. Uma cena. Um caderninho amarelo caído de uma bolsa, objeto que você não devolve porque quer bisbilhotar. A proclamação da vulgaridade não é, então, um discurso. Nada disso. A poesia de Mila Teixeira é uma grande risada. Da nossa condição, de todos os diagnósticos. Um corpo(...)