Qualificada como ¿epidemia mundial¿ pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade tem mobilizado ininterruptamente o setor médico, questionando as diferentes instâncias científicas, interpelando o mundo político e periodicamente produzindo grandes manchetes na mídia. Suas consequências são múltiplas, seja no plano estritamente sanitário, seja no econômico ou no social. Mas as dimensões da obesidade não se reduzem a seus determinantes sociais: alcançam níveis e modos de vida, discriminações e estigmatizações que vitimam as pessoas com sobrepeso, ou ainda estabelecem normas e modelos de estética corporal. Para ultrapassar a aparente e frequentemente ofuscante evidência problemática do corpo do obeso, convém considerar as controvérsias científicas que atravessam essa questão para introduzir as estratégias conflituosas entre agentes do sistema médico, agroalimentar, da indústria farmacêutica, da mídia e dos diferentes ministérios envolvidos.