Sou tudo o que me rasga por tanto ser. Trabalho ausências, meu descampado ilegível. Escuto subterrâneos para não perder de vista dentros e desvãos, alegorias murmurantes do pretérito existir. Entre mim e minha outra parte, tateio espessuras do eterno, por vezes, rebentado. Palavras emergem como voragem destes cantos estreitos, tantas vezes recuados no fosso da alma. Depredo verbo por verbo para que o sujeito escorra substantivo ao ponto de exclamação. Palavras pesadas de fala até esgotar o não dito. O livro mostra fissuras por onde escorre um universo particular arredio. Discutir sintomas, martírios e a ressurreição pela força é tocar a realidade desmistificando o sofrer como algo que reduz. Ao contrário. Saber de si o que arde é a redenção do ser na complexidade do agora. A poesia constrói pontes entre o imaginário e a percepção. A nitidez do olhar de todos os começos: o que temos de mais precioso é o Agora.