A partir deste mês, os brasileiros farão parte do seleto grupo de ocidentais a ter acesso à reunião completa dos Contos da palma da mão, de Yasunari Kawabata (1899-1972). Antes de nós, no Ocidente, apenas os italianos. (Edições em inglês, francês e espanhol apresentam uma seleção de sessenta a setenta contos.) Os 122 contos lançados agora pela Editora Estação Liberdade - inaugurando suas publicações em homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil - foram traduzidos diretamente do japonês por Meiko Shimon, estudiosa da obra de Kawabata, considerado, com Tanizaki e Mishima, o escritor moderno mais importante do Japão. Produção que acompanhou praticamente toda a vida do autor - o mais antigo data de 1923 e o mais recente, de 1964 - esses brevíssimos contos, gênero literário dileto de Kawabata, foram reunidos pela primeira vez em 1971. Eram, então, 111, de acordo com a seleção acompanhada pelo próprio escritor, que, na época, declarou: "A maioria dos escritores, quando jovens, escreve poemas, enquanto eu escrevia ‘contos da palma da mão’". Dez anos mais tarde, numa edição já póstuma, e que se tornaria corrente, acrescentaram-se outros onze. É essa, da editora Shinchosha, a referência para a edição lançada agora no Brasil. Quantos são, de fato, os "ontos da palma da mão", é difícil saber ao certo: há pesquisadores que afirmam existirem 175; outros falam em 146. Em cada uma das narrativas chama a atenção, em primeiro lugar, o poder de concisão. Ao tratar de uma rica variedade de temas - na qual, aqui e ali, identificam-se recorrências que voltaremos a encontrar também nos romances do autor -, Kawabata sabe escolher o essencial, a palavra precisa, e descartar tudo o que não é absolutamente necessário. As imagens são fortes, a escrita é sinestésica e não há lugar para sentimentalismo, divagações e explicações.Em cada uma das narrativas chama a atenção, em primeiro lugar, o poder de concisão. Ao tratar de uma rica variedade de temas - na qual, aqui e ali, identificam-se recorrências que voltaremos a encontrar também nos romances do autor -, Kawabata sabe escolher o essencial, a palavra precisa, e descartar tudo o que não é absolutamente necessário. As imagens são fortes, a escrita é sinestésica e não há lugar para sentimentalismo, divagações e explicações. Muitas vezes encerra-se a leitura de um conto - que contém, numa média de duas a quatro páginas, tamanho que "cabe na palma da mão", todo um universo dramático - sem a noção exata de seu significado. Paira no ar uma impressão, algo que, a um só tempo, é capaz de impregnar a imaginação do leitor e ficar além do seu entendimento. E então, em algum momento posterior, essa sensação difusa pode vir a se transformar em revelação plena de sentido. A morte, o amor, a infância, a cegueira, a sensualidade, os laços de família, os sonhos, as expectativas são alguns dos temas que perpassam os contos, e que muitas vezes nascem da observação do que há de mais cotidiano - e, nesse sentido, invisível - na existência. "[...] entre eles há algumas peças não muito razoavelmente fabricadas, mas há algumas boas, que jorraram de minha pluma naturalmente, de seu próprio aval. [...] Vive neles o espírito poético de meus dias jovens", disse o autor. Em cada uma das narrativas chama a atenção, em primeiro lugar, o poder de concisão. Ao tratar de uma rica variedade de temas - na qual, aqui e ali, identificam-se recorrências que voltaremos a encontrar também nos romances do autor -, Kawabata sabe escolher o essencial, a palavra precisa, e descartar tudo o que não é absolutamente necessário. As imagens são fortes, a escrita é sinestésica e não há lugar para sentimentalismo, divagações e explicações. Muitas vezes encerra-se a leitura de um conto - que contém, numa média de duas a quatro páginas, tamanho que "cabe na palma da mão", todo um universo dramático - sem a noção exata de seu significado. Paira no ar uma impressão, algo que, a um só tempo, é capaz de impregnar a imaginação do leitor e ficar além do seu entendimento. E então, em algum momento posterior, essa sensação difusa pode vir a se transformar em revelação plena de sentido. A morte, o amor, a infância, a cegueira, a sensualidade, os laços de família, os sonhos, as expectativas são alguns dos temas que perpassam os contos, e que muitas vezes nascem da observação do que há de mais cotidiano - e, nesse sentido, invisível - na existência. "[...] entre eles há algumas peças não muito razoavelmente fabricadas, mas há algumas boas, que jorraram de minha pluma naturalmente, de seu próprio aval. [...] Vive neles o espírito poético de meus dias jovens", disse o autor.