Aplicam-se a George Jonas as palavras de Mário de Andrade: Sou 300, sou 350. Mas, diferente do poeta, que espera um dia topar consigo, o químico, cineasta e publicitário húngaro-brasileiro parece nunca ter escapado de si mesmo. Versátil, múltiplo, com todos os seus eus muito talentosos, extremamente carinhosos e alegres com o milagre da vida. É com o rigor do químico-inventor; com a magia do cineasta; com a insaciedade do viajante; com o olhar deslumbrado do turista; com a simpatia do cidadão do mundo; o espanto do apátrida; e a fluidez do poliglota que George Jonas nos presenteia com sua aventura autobiográfica. Parte dela, na verdade. Não, não se trata de mais uma narrativa com o intuito de apresentar uma personalidade-exemplo. Trata-se, sim, de uma história que poderia facilmente passar por ficção se existisse um roteirista capaz de imaginar tantas peripécias de sucesso para um anti-herói assumido. George Jonas conta neste livro como o fato de saber desenhar o levou ao desenho animado, à química e ao cinema e da derrotada Hungria da Segunda Guerra Mundial a uma louca travessia da floresta amazônica, que o trouxe da Bolívia para o Brasil. Aqui, ele deu um golpe de modernização tecnológica no filme publicitário brasileiro e transformou os nossos sertões em cenário para a obra máxima do cinema nacional dos anos de 1960, A Compadecida, que o próprio Ariano Suassuna definiu como o espetáculo mais bonito que já vi feito com minha peça. Foi com seu espírito inovador que participou ativamente do desenvolvimento da publicidade no Brasil. Na década de 1970, criou a Espiral Filmes, que chegou a ser reconhecida como a maior produtora da America Latina e formadora da maioria dos profissionais do mercado publicitário. Com suas campanhas nacionais e internacionais, recebeu mais de 50 prêmios entre Festival de Cannes, Clio, Festival de Londres, de NY e Pan-Americano. A Espiral produziu filmes memoráveis, como O Primeiro Sutien; Cofap; Vinólia; Pepsi; Bombril; Kolinos; Lançamento do Scort XR3 com a participação de Airton Senna; Fiat 147; Chambinho; Caloi; Guaraná Taí, entre outros.