Severino Antônio é um homem raro. Ele diz como quem tira as palavras-água do claro-escuro de um poço fundo. Como quem demora em girar o eixo e trazer das entranhas da terra, onde vivem e florescem os pensamentos, um balde de substantivos, de advérbios, de verbos e de conjunções. Ele fala como se criar uma frase fosse como escrever um poema, como semear um jardim, como fundar os alicerces de uma casa. Quando estamos juntos e somos alguns amigos e conversamos, Severino primeiro só escuta. Ele fica ali, imóvel, os olhos atentos tanto quanto os ouvidos. É como se até cantos de passarinho soubesse decifrar. Quando já se pensa que é hora de não se dizer mais nada, então é quando ele fala. E ele é um dos melhores mestres que conheci em toda a minha vida na arte de criar um silêncio enorme quando fala. Se eu pudesse fazer um convite a vocês, leitor amigo, amiga leitora, seria este: que saibam ler Severino Antônio, como nós aprendemos, professores que somos e ainda seus alunos, a ouvi-lo. (Carlos Rodrigues Brandão) "O visível e o invisível" reúne três livros: "A redescoberta do sagrado", "O reencantamento do mundo" e "A matéria amada". São poemas filosóficos, lírico-reflexivos e, ao mesmo tempo, cotidianos e cósmicos. Escritos de modo constelar, contínuo-descontínuo, como se fossem poemas feitos de poemas. Uma poética de recriação de sentido. De religação. De reencantamento. Nestes tempos de homens partidos e natureza devastada, precisamos ainda mais da poesia – raiz da palavra, utopia da linguagem. Precisamos da palavra poética, que pode nos ajudar a humanizar a história. Esses são questionamentos permanentes dos poemas, que pertencem ao nascimento de uma nova escuta poética do universo e da vida humana, concebidos como teias de interações e interdependências, texto a ser interpretado, poema a ser escrito e reescrito, em uma nova estética-ética da irmandade de todas as coisas.