Uma história desagradável narra como o alto funcionário Ivan Ilitch Pralínski, após algumas taças de champanhe, decide coroar seu recém-desperto amor pela humanidade com um gesto magnânimo e paternal: entrar de penetra na festa de casamento de Pseldonímov, um de seus mais baixos subordinados, e conquistar a todos ali "de forma irresistível", fazendo "renascer neles toda a nobreza". Publicada em 1862 na revista O Tempo, esta obra-prima da narrativa curta, contemporânea a Humilhados e ofendidos (1861) e Recordações da casa dos mortos (1862), faz parte da produção de um Dostoiévski recém-saído da prisão e que marca sua presença no principal debate da época - o conjunto de reformas que trouxe a libertação dos servos, e o clima de ingênuo otimismo que então se espalhava por parte da sociedade. A tradução de Priscila Marques, a primeira realizada diretamente do russo no Brasil, reconstrói em nossa língua as nuances de tom, o vocabulário às soltas e a trama de referências do texto original. Quanto a isso, é especialmente elucidativo o ensaio de Aleksei Riémizov, incluído nesta edição, que revela ainda os fatores que tornam esta novela o primeiro elo da corrente que conduz aos grandes romances Crime e castigo, O idiota e Os irmãos Karamazov.Publicada em 1862, esta narrativa, contemporânea a Humilhados e ofendidos e Recordações da casa dos mortos, marca a presença de Dostoiévski no principal debate da época: as reformas que trouxeram, entre outras mudanças, a libertação dos servos na Rússia. Com a história tragicômica de um nobre que resolve entrar de penetra na festa de casamento de seu funcionário, o autor faz uma ácida crítica à estratificação e aos valores da sociedade de então. Trazendo a primeira tradução direta da novela no Brasil, o volume conta ainda com um pioneiro ensaio do escritor modernista russo Aleksei Riémizov, que procura analisar a complexa trama de referências da obra.