Rio de Janeiro, manhã de 13 de março de 1964: a cidade, meio tensa e vazia, se preparava para o comício de Jango pelas reformas de base, marcado para aquela tarde na Central, enquanto Glauber, amigos e colaboradores se reuniram no cinema Vitória para assistir em sessão especial à primeira cópia de Deus e o diabo na terra do sol. Dali, da Cinelândia, quase todos saíram para o comício. E depois, já tarde da noite, para a casa de Glauber: dia 14 era aniversário dele, 25 anos. O ritmo de roteiro e o estilo cinematográfico não poderiam ilustrar melhor o livro do crítico José Carlos Avellar, Deus e o diabo na terra do sol sobre o filme homônimo de Glauber Rocha da Coleção ArteMídia. Os autores que participam desta coleção são convidados para escrever sobre o seu filme predileto, que faz da ArteMídia uma série ainda mais instigante. Escolhi Deus e o diabo na terra do sol por várias razões: primeiro, pelo impacto que o filme causou na época, e também porque ele propõe uma maneira de filmar que está perto do que se faz hoje, em nosso país, com as novas tecnologias. É como se, 30 anos depois, o filme voltasse a ser jovem, diz Avellar.