Construída no período entre guerras pelo renomado arquiteto alemão Mies van der Rohe por encomenda de um jovem casal, a elegante Villa Tugendhat tornou-se um monumento da arquitetura moderna minimalista na cidade de Brno, na República Tcheca, atravessando as décadas com sua imponente estrutura de aço e vidro que prioriza espaço, forma e luz. A fabulosa construção serve de inspiração para o cenário — e também personagem principal — do aclamado romance A sala de vidro, finalista do prestigiado Man Booker Prize e eleito um dos melhores livros do ano em 2009 por publicações conceituadas como The Economist, Financial Times, The Observer e New York Times Book Review. Através da trajetória da fictícia casa e de seus proprietários e habitantes ao longo dos anos, o autor britânico Simon Mawer acompanha com maestria a História recente da Europa, em uma trama comovente que tem início no final da década de 1920. Quando Viktor Landauer se casa com a bela Liesel, o pai dela os presenteia com um terreno com deslumbrante vista para a cidade de Mesto e os aconselha a construir algo “bom e sólido”. Mas Viktor é um rico empresário judeu a favor da inovação e do progresso; que quer, sim, algo bom, estupendo, mas não sólido. Afinal, aquele era o século XX, não mais o XIX. A Grande Guerra havia chegado ao fim há quase uma década. A intenção de Viktor era abraçar a estética do Movimento Moderno que floresceu breve, mas brilhantemente, durante a primeira república da Thecoslováquia. O casal se depara com um novo mundo ao conhecer o visionário arquiteto Rainer von Abt — discípulo de Adolf Loos, ícone da arquitetura moderna. Juntos, os três planejam cada detalhe da construção. A intenção é erguer um lugar que nada tenha a ver com o passado, que seja repleto de luz e despido de ornamentos, simbolizando o otimismo do período pós-guerra. Logo, surge Das Landauer Haus, A Casa Landauer, que com sua extraordinária Sala de Vidro se torna a mais celebrada criação de Von Abt. Uma obra-prima modernista em vidro e aço, erguida sobre piso de travertino e amparada por uma parede de ônix. Uma verdadeira pièce de résistance. A casa torna-se referência, palco de recitais e emblemáticos encontros — além de abrigar, e até incitar, questões profundamente complexas de todos os personagens que lá interagem. Mas quando a invasão nazista tem início o casal é obrigado a abandonar tudo e fugir do país. A casa é tomada pelos alemães, depois ocupada pelos soviéticos e, finalmente, passa a pertencer ao governo da Tchecoslováquia, com a perfeição cristalina da Sala de Vidro sempre exercendo uma força gravitacional naqueles que a conhecem. Nem a utilização como laboratório de pesquisa nazista ou como bunker de guerra: nada consegue arrancar a aura desse lugar, capaz de evocar sentimentos e cenas viscerais.