Flávia Péret tem aftas cronicamente. Elas aparecem sempre que Flávia bebe qualquer bebida alcoólica, especialmente vinho, que ela adora. Então às vezes nos sentamos em algum lugar, ela pede um suco e conversa a noite toda, convencida de que está fazendo a coisa certa. Em outras, pede só uma taça, ciente de que no dia seguinte sofrerá as consequências, mas convencida de que é só humana mesmo e que quer muito aquele vinho. Ela sabe bem onde ficam as pequenas dores e o quanto elas podem incomodar. A maior parte do tempo as pequenas dores é que são reais (e assim os pequenos desejos, as pequenas frustrações, os pequenos deleites, as pequenas revoluções). Estão na boca, no paladar, em todos os dias, em pequenas feridas corriqueiras que se abrem, permanecem ali durante um tempo curto e se fecham. Conheço Flávia já há vários anos e pude vê-la se apaixonar pela poesia e talvez também recusar a forma como ela é dada frequentemente às mulheres algo feito também por várias poetas [...]