Este livro é bicho selvagem. As palavras circulam pela escuridão, caminhando inquietas por entre as árvores, em espera salivante, aguardando o momento do bote. Farejam o ar, rosnam para a luz, e então saltam para junto da fogueira, caninos arreganhados, prontos para rasgar. Neste Desilusão de Ótica, Úrsula Antunes nos entrega narrativas que caçam o leitor pela mata, silentes, nem sempre revelando sua natureza brutal, por vezes fantástica. Sua fome é por aqueles que se arriscam no limiar, onde morre a luminosidade das chamas, os leitores transmutados em presa, pois não lhes resta outra opção. Ao darem por si, já, foram arrastados para as trevas. E as trevas estão lá, espreitando, mesmo quando principalmente, bem dizer não são imediatamente visíveis. Escorrem por estes nove contos, por vezes na superfície, mais frequentemente agitando-se ameaçadoras abaixo dela. Essa escuridão rasteja no canto do olho, quando Úrsula nos traz um encontro fortuito com uma figura espectral junto à (...)