Os textos que compõem este livro derivam de um dos seminários internos do GRUPALFA (Grupo de Pesquisa de Alfabetização dos alunos e alunas das classes populares). Tais seminários aconteceram durante dois dias inteiros, envolvendo pesquisadores, doutorandos e mestrandos, homens e mulheres do campo do cotidiano e debatedores convidados para a discussão dos trabalhos. A partir do tema Metodologia de Pesquisa foram abordadas: a relação prática-teoria-prática,a relação sujeito-objeto-sujeito, a indissolubilidade conteúdo-forma, as metodologias de pesquisa de que se vale quem pretende compreender melhor o cotidiano, este espaço sempre cambiante, sempre surpreendente, sempre inesperado, para nele interferir segundo uma perspectiva emancipatória. Não se trata de entrar em campo como sujeitos que vão pesquisar objetos, cujos resultados serão transformados em relatórios, artigos ou teses, mas de sujeitos que pesquisam com outros sujeitos, visando à transformação da realidade. Portanto, não cabe chamar nossas pesquisas de "pesquisa no cotidiano", ou "do cotidiano", ou mesmo "sobre o cotidiano", mas de pesquisas que acontecem com os sujeitos da pesquisa (professoras, grupos, crianças) em permanente e rico diálogo. "Pesquisa com o cotidiano", melhor diríamos. Tais metodologias não se constituem aprioristicamente, tampouco são aplicáveis a qualquer situação, mas vão se delineando no decorrer do processo investigativo. Vamos como o poeta que faz o seu caminho ao caminhar. Isso não significa uma entrada amadorística no campo da pesquisa, mas um preparar-se com rigor, um rigor flexível o bastante para captar o imprevisível que se apresenta em momentos efêmeros em que a realidade vai se revelando. Houvesse uma metodologia prêt-à-porter, a única, a que serviria para pesquisar o que fosse, quando fosse e para que fosse, ela exigiria muito menos do pesquisador, razão por que não nos referimos a metodologia no singular, mas a metodologias de pesquisa com o cotidiano no plural, que muitos caminhos há. Não se trata de sujeitos iluminados que se acercam da escola munidos da teoria para com ela explicar o que acontece no seu interior, mas de sujeitos cotidianos da pesquisa, os que chegam e os que lá estão, que vivem, convivem, interagem, intentam, habitam nesses cotidianos, atualizando a teoria, tecendo novos conhecimentos sobre a prática e recuperando a unidade prática-teoria-prática. Bem, se mais dissesse esvaziaria a surpresa que todo livro deve trazer. Anuncio apenas, como num trailer de filme, o que será encontrado nesta obra que tanta alegria nos deu fazer.