Nenhuma outra religião deu maior valor aos estados de percepção e libertação espiritual, e nenhuma outra descreveu, tão metodicamente e com tamanha riqueza de reflexões críticas, os vários caminhos e disciplinas por meio dos quais esses estados são alcançados, ou as bases ontológicas e psicológicas que tornam esses estados tão importantes e esses caminhos tão eficientes. No budismo, a ‘espiritualidade’ não é uma realidade meramente interior ou uma simples fuga da existência comum. Ela não pressupõe qualquer dualismo entre o domínio espiritual e o domínio dos sentidos, ou entre uma dimensão profana e o mundo sagrado. Numa palavra, a liberdade alcançada na prática budista é o conhecimento da realidade, ou antes, é a realidade em si, a existência liberta das ilusões e das paixões que nos prendem a um mundo de ignorância e sofrimento. O encontro do budismo com as tradições religiosas e literárias da China, talvez seja o episódio mais dramático desse desenvolvimento, e o entendimento completo dessa metamorfose requer igualmente uma compreensão plena das tradições confucionista e taoísta.