No ano de 638, o patriarca ortodoxo de Jerusalém qualificou de abominação aos olhos de Deus a presença do califa muçulmano na igreja do Santo Sepulcro. Desde esse primeiro contato, cristãos e muçulmanos têm encarado uns aos outros com desconfiança. Este livro esquadrinha a longa história dessa conturbada relação. Sugere que ódio não é instinto, mas uma atitude encorajada e aprendida através de muitos séculos. Durante esses séculos, o antagonismo foi inflamado pela palavra escrita por meio da imprensa e pelo poder da voz humana. Nutriu-se de sugestões sutis e insidiosas em pinturas, desenhos e gravuras. Essa batalha ainda está travada, hoje, por intermédio de jornais, revistas e livros, da televisão, do rádio e da Internet. O exame de Andrew Wheatcroft assume uma nova linha. O autor se concentra minuciosamente nas três áreas onde muçulmanos, cristãos e judeus viveram juntos por longos períodos: a Espanha, o levante e os Balcãs. O padrão do ódio era similar mas não idêntico em cada caso. Na Espanha, primeiro os judeus e depois os descendentes dos mouros foram por fim expulsos - porque esses estrangeiros passaram a ser temidos como contaminadores da Sacra Espanha. No levante, a intervenção dos cruzados reavivou as idéias de jihad, ou guerra pela fé, há muito latentes entre os muçulmanos. Nos Balcãs, reminiscências distantes, relembradas, registradas disseminadas tornaram-se o estímulo para atrocidades no século XX. Agora, no século XXI, teve início um novo ciclo: mais uma vez, opiniões formadas há muito tempo estão ressurgindo. Não se estabelecem analogias fáceis entre aqueles dias distantes e nosso presente, mas os leitores hão de fazer suas próprias associações. Infiéis é um livro importante e que prende a atenção, porque vivemos em tempos terríveis, pelo menos em parte em conseqüência dessas falsas e - resgatadas- lembranças de um passado há muito tempo morto.