Rebecca Monteiro analisa a obra de Clarice Rebecca Monteiro Lispector com a ajuda de alguns autores (Michel Foucault, Hannah Arendt, Jacques Derrida e Homi Bhabha), concentrando seus esforços nos livros Perto do coração selvagem (1944), A maçã no escuro (1961), A paixão segundo GH (1964), Água viva (1973), e A hora da estrela (1977). O campo deste trabalho está posicionado nas relações que a literatura de Clarice Lispector tece com o universo da política. Essas relações não são facilmente visíveis, mas é estimulante pensar que essa dificuldade mesma já é uma prova de que a escrita de Clarice não pretende reforçar ou reiterar as imagens e códigos automáticos com que nos apropriamos desse conturbado território. O silêncio quase ostensivo de Clarice no que diz respeito a partidarismos, filiações ideológicas ou discursos revolucionários pode ter estimulado o ressentimento de alguns críticos mais engajados ou a curiosidade de outros, menos aguerridos, mas não deixa de ser um sinal de que a política em sua obra, como tantos outros materiais trabalhados pela autora, deve ser procurada um pouco além do discurso, mais precisamente no ponto em que discurso e jogo confundem seus limites.