Assim que a memória de Homero recuperou as Típicas de Aníbal Troilo e de Francisco Canaro, que escutava pelas ondas curtas da Rádio Belgrano de Buenos Aires, quando era jovem, suas pernas foram tecendo os movimentos e os floreios mais ousados do tango. De repente, lembrando as figurações que fazia quando bailava na zona e as mulheres faziam fila para estar com ele, suas pernas se juntaram às de Victória, como se sustentassem um único corpo. Dançaram e dançaram... É mais ou menos assim que somos tratados pelo autor: aos poucos começa-se a escutar a melodia do tango ao longe, nas entrelinhas, o compasso marcado, dois por quatro, se alinha às batidas do nosso coração e eu acho que é nessa hora que somos convidados a dançar. Carregados generosamente pelas mãos sujas de tinta e desejo de Priscyla ou pela voz de Victória, a neta de Gardel, ou arrastados gravemente como a letra de um tango pelas mãos trêmulas de Homero