Clara - aqui em sua primeira tradução portuguesa - é um texto singular, que fascina pela coragem de abordar temas espinhosos, tais como a vida após a morte, a reencarnação, a vidência, o amor e seus limites metafísicos, o magnetismo animal, a força curadora dos lugares, a relação mágica entre o homem e a natureza, além do perigo que a liberdade representa para os últimos. Embora inacabado, ele atrai pela vivacidade, a concretude e o frescor da apresentação dialogada, na qual Schelling deseja ser ouvido e compreendido pela amante morta - sua primeira mulher, Caroline, uma das grandes inspiradoras do Romantismo alemão na Jena da virada do século 18 para o 19. O texto é misterioso, impregnado romanticamente do luto do filósofo, que enlaça, no escrito, a anamnese pessoal àquela de uma natureza perdida para o homem e para si mesma. Em Clara a Filosofia de Schelling ultrapassa limites, avançando nos marcos de literatura e religião.