Nestes poemas reunidos, Helena Borges convoca elementos e situações autobiográficas para pensar um expandido, um todo - como uma mulher revoltada que se chama e se entende povo. Identificamos, nos temas, questões sobre sua relação com a cidade e com espaços de intimidade - como os cômodos de sua casa: quarto, banheiro, cozinha; suas relações afetivas; sua sexualidade; e sua conexão fêmea com a natureza. Dos espaços que seus versos entoam, percebemos que seu ônibus não só atravessa uma cidade, como também percorre Engenho Novo, ladeiras de Minas Gerais, Praça do Papa, Vila Isabel e Posto 9. Em seu caminhar por Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Helena resgata memórias da cidade de infância - revisita e ressignifica afetivamente seus quintais - ao mesmo tempo em que deseja apagá-las, num processo de desapego de si. Na cidade nova, ela também constrói lembranças e esquecimentos. A cicatriz existe para que não se esqueça, ela é dispositivo da memória. [...]