Dissertação de mestrado defendida em 1990 no Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, Um coração maior que o mundo circulou em cópias xerox durante mais de uma década, entre especialistas e estudantes universitários. Agora resgatado para a forma de livro por iniciativa da Editora Globo, trata-se do mais completo e profundo estudo sobre a obra de Tomás Antônio Gonzaga realizado até hoje. Ronald Polito empreende minuciosa e sofisticada análise dos principais escritos do famoso escritor nascido em Portugal em 1744 e falecido em Moçambique em 1810: o lírico Marília de Dirceu, a sátira Cartas chilenas e o ensaio Tratado de direito natural, além de alguns poemas dispersos. O leitor se surpreenderá com as conclusões de Polito. Normalmente associado ao inconformismo revolucionário da Inconfidência Mineira (1788-1789), o Gonzaga que surge da leitura de Um coração maior que o mundo é, no mínimo, contraditório. Embora revele adesão à princípios então emergentes, como a valorização do indivíduo perante o Estado e a sociedade ou a primazia do mérito sobre a linhagem, a obra do conjurado vê o Brasil apenas como colônia de Portugal, além de defender explicitamente o poder inquestionável do rei, o respeito à autoridade e aos dogmas da Igreja Católica, a escravidão, a plena submissão à lei, à hierarquia e à ordem. Dividido em cinco partes, Um coração maior que o mundo título que deriva de famoso verso de Marília de Dirceu ("Eu tenho um coração maior que o mundo!/ Tu, formosa Marília, bem o sabes:/Um coração..., e basta,/ Onde tu mesma cabes") inicia-se com a descrição do próprio problema colocado pelo livro (Parte I): por que e como analisar a obra gonzaguiana? Segundo poeta mais lido em língua portuguesa no século XIX, perdendo apenas para Os lusíadas, Tomás Antônio Gonzaga é um dos autores mais estudados do chamado "arcadismo". Portanto, Polito enfrenta um duplo desafio: lidar com a vasta fortuna crítica do poeta e, ao mesmo tempo, propor nova leitura dessa obra, complexa por sua natureza e heterogeneidade.O esquema interpretativo construído por Ronald Polito resolveu a questão analisando o conteúdo das obras de Gonzaga quanto a quatro temas, todos muitos caros à história social das idéias: "O sagrado" (Parte II), "A sociedade e a política" (Parte III), "Do público ao privado" (Parte IV) e "O tempo: a história e a poesia" (Parte V). Foi graças a essa divisão analítica que Polito chegou às conclusões inusitadas sobre o conservadorismo desse que foi um dos principais mentores da Inconfidência Mineira.