Começo a escrever essa orelha dentro do trem, termino essa orelha dentro de casa. No passeio de alguns dias, leio o livro de Carina Gonçalves como o enxergo: em trânsito. Passo pelas horas com suas frases ecoando em minha cabeça e me cobrando devagar, como em um de seus poemas, porque há prazos (sempre eles), as coisas por fazer e deslizo assim com o livro, com essa orelha ecoando em pequenas frases. O nada acontece e de repente me choco com os primeiros versos que atravessam o marasmo da vida, os figurantes das minhas férias/ se repetem por erro/ de continuidade ou por baixo/ orçamento ou apenas para/ me mostrar o quão pequena/ é a cidade. Olho ao redor e, agora, depois de acontecer o choque, penso nos figurantes da vida, na pequenez das cidades, no erro de continuidade. E sigo carregando comigo o livro da Carina Gonçalves, sempre em trânsito, e enquanto o nada acontece, já dentro de casa, [...]