A infância não é um mal necessário, nem condição próxima ao animal, nem simples pecado, menos ainda fonte de erros - como sustenta a tradição inaugurada por Platão, recuperada por Santo Agostinho, remoçada por René Descartes. Tampouco é um precipitado de sinceridades ou de bondades naturais. Justamente, não se trata de invertermos, mais uma vez, o platonismo na trilha já aberta por Jean-Jacques Rousseau. Trata-se, sim, de pensar a infância além do registro habitual de idade natural da vida ou de humanidade pré-formada, passível de padecer representações sociais diversas, segundo a época e a geografia, ora a ser preservada, ora ultrapassada.