Mulheres do campo e aprendizagens culturais de gênero é um livro que procura explorar a dimensão cultural associada às origens imigratórias nas configurações de gênero das mulheres do campo, buscando dar visibilidade aos comportamentos das comunidades rurais da região da Serra Gaúcha e às tradições culturais e de socialização deixadas por uma história de imigração portuguesa, italiana e alemã, visando a desconstrução do paradigma da naturalização das relações de gênero, questionando as justificações culturais que fazem do respeito às tradições uma guilhotina que ameaça e cerceia os direitos e a liberdade da mulher do campo. O objetivo da pesquisa que origina o texto deriva da existência de razões que apontam para que essa dimensão possa desempenhar uma influência mais importante nas zonas rurais do que nas urbanas. Com efeito, o maior isolamento das zonas rurais tende a subtraí-las do contágio cultural que as concentrações urbanas exercem sobre os indivíduos e os grupos sociais, permitindo uma relativa preservação das suas identidades e tradições culturais. Considerando que essas constituem uma espécie de moldura na qual as aprendizagens de gênero se enquadram, as diferenças culturais podem ser responsáveis por distintas manifestações de desigualdade. Por exemplo, culturas que exacerbam o domínio masculino sobre as mulheres acentuam as desigualdades de poder e potenciam a violência. É, portanto, crítico perceber em que sentido a relativa preservação cultural pode, ela própria, promover aprendizagens específicas que contribuem para prolongar a naturalização das desigualdades de gênero, porventura mais intensas em determinados contextos culturais do que em outros.