O tema da resistência às ditaduras que atravessaram a história brasileira no século XX (em especial a instaurada em 1964) ocupa o centro da reflexão de todos os textos reunidos neste livro. Questão de história política por excelência, claro. O foco, entretanto, não é fechado na esfera da luta política estrito senso, mas voltado para as formas culturais assumidas pelos conflitos sociais e políticos da época. Mais especificamente aquelas que, por projeto político consciente ou por consequência direta de sua origem de classe, tiveram que se enfrentar com a censura e a repressão às manifestações artísticas, editoriais, jornalísticas e educacionais em dissonância com a ordem imposta pelos regimes de força. Uma referência teórica comum perpassa os textos. Neles a cultura é percebida como “um processo (social e material) produtivo e de práticas específicas” e as artes são concebidas como “usos sociais de meios materiais de produção” (que envolvem desde a linguagem até sistemas eletrônicos de comunicação), conforme nos ensinou Raymond Williams. Com Williams e outras referências essenciais a uma análise materialista dos processos culturais, os textos aqui reunidos procuram apreender as dimensões assumidas pela luta de classes nas áreas da educação e cultura evitando abordagens que apartam tais dimensões das demais esferas da vida social. Editoras e periódicos oposicionistas, universidades e teatros, salões de artes plásticas e bailes de soul e funk, aparecem nas páginas deste livro em suas especificidades, mas também no que as uniu em tempos ditatoriais: o sentido de classe tanto da ação estatal repressiva, quanto das formas de resistência que representaram. Tempos passados?