A prática médica esteve, durante séculos, alicerçada na arte de ouvir e examinar o homem doente, como fundamento único da terapêutica aconselhada. A extremamente limitada eficácia da terapêutica medicamentosa, a escassez dos meios auxiliares de diagnóstico, a limitada capacidade da cirurgia, condicionavam um comportamento médico baseado essencialmente no exame e interrogatório apertados, num conhecimento cada vez, maior do doente, para melhor saber apoiá-lo na "travessia" da doença. O médico curava pela sua simples presença. A progressiva passagem da arte médica para a ciência médica, possível pelo enorme desenvolvimento das tecnologias, das ciências biológicas, das terapêuticas médicas eficazes, das cirurgias cada vez mais seguras, provocou, sobretudo desde os meados do Séc. XX, uma diminuição da importância diagnostica desta prática de ouvir e examinar, a favor da utilização de toda uma parafernália de ''métodos auxiliares de diagnóstico ". A medicina clinica tornou-se, assim, muito mais eficaz, mas, também, mais distante do seu doente, esquecida tantas vezes que a doença faz sempre parte do ser humano que a sofre. Passou a ser "científica" e a desenvolver-se num universo tão próprio e estranho, que só os iniciados conheciam a sua linguagem e os seus sinais.