Ainda que se discuta através da imprensa assuntos como a abertura dos arquivos militares durante a ditadura ou a revisão da lei de anistia, o tema das esquerdas e a luta armada é relativamente desconhecido de grande parte de população, inclusive entre os jovens, mal aparecendo nos currículos escolares. A obra de Jean Rodrigues Sales, didática mas sem ser simplista, pretende contribuir para que essa história de idealismo, coragem e abnegação atinja um público mais amplo, com o cuidado específico de atualizar dados e informações, assim como esclarecer interpretações equivocadas sobre o período. Tendo como base parte de sua tese de doutorado defendida na Unicamp, Sales revela como surgiram os diversos - e muitas vezes antagônicos - grupos revolucionários de esquerda e quais as características políticas e ideológicas de sua atuação, desde o início dos anos 1960 até os anos sombrios da ditadura, quando entraram em conflito armado contra as forças militares e policiais. A influência da revolução de Fidel e Che Guevara tem papel relevante na maneira como Sales expõe o percurso das organizações guerrilheiras dos anos 1960 e 1970, sem, no entanto, desconsiderar os influxos nacionais nessa trajetória. Sales mostra como a discussão em torno do significado da revolução cubana aparece como elemento fundamental na formação dos agrupamentos armados no Brasil, seja como apoio e filiação, como crítica ou como tentativa de adequar o modelo cubano ao nosso país, mas nunca como cópia mecânica. Para facilitar a compreensão do período, Sales dividiu o livro em quatro partes. A primeira trata da atuação, antes do golpe, de grupos comunistas mais ortodoxos, como o PCB e o PCdoB, e das organizações da nova esquerda que questionavam essa tradição, a ORM-Polop e a Ação Popular. Também abordando o período anterior ao golpe de 1964, o segundo capítulo mostra o aspecto histórico pouco conhecido dos campos de treinamento de guerrilha instalados por setores das Ligas Camponesas. Os demais capítulos falam da luta armada propriamente dita, detendo-se mais detalhadamente na atuação da Ação Libertadora Nacional de Carlos Marighella, possivelmente a mais importante das organizações que pegaram em armas contra a ditadura militar.