A História, prática criadora de sentidos e de realidade, está imersa em condicionantes históricos,institucionais e teóricos. Por essa razão, compreende-se que o lugar da história das práticas de pajelança seja, em grande medida, um não-lugar. Historicamente negativizada, em razão das ações repressivas do Estado, através de seus aparatos policiais, ou da produção depreciativa da imprensa, é inteligível que essa prática cultural fosse mantida longe dos constructos que tinham por objetivo eternizar um dado passado. Contudo, quando moradores da zona rural, principal área de atuação dos pajés, tomam a palavra e verbalizam experiências dissonantes em relação àquelas descritas pela memória oficial, quando constroem memórias diversificadas sobre os pajés e a pajelança, a transgressão desses padrões de dizibilidade historicamente estabelecidos se torna possível.