Lamina: superficie delgada ou materia dura e cortante, lasca, fatia, faixa, estampa. A palavra que corta o tempo e a pagina, quase translucida. A poesia farta nao necessita da palavra exagerada. Susto, soluco, espasmo, calafrio. A poesia farta fala da boca cerzida de dor, da patria amarga que chuta nossos ossos com seus coturnos lustrados de sangue e preconceito. A poesia derramada, lirica, de versos contidos, pendulo nas curvas de figo em calda aquilo que nos esmaga. Os poemas de Marcia Friggi consagram, porque transubstanciam. Tornam arte o grito, tornam presente a memoria. Marcia lapida a palavra, esculpe o verso, lamina o tempo presente: porto, vale, a morte embalada na semente esteril, o golpe. Dos haicais aos poemas de protesto, das borbolentas no interior de um vale aos misseis na Siria, a poeta pulsa seu tempo nas arterias dos versos. Nao se esconde, tampouco busca refugio no vazio. A arte e, afinal, lugar de fala, territorio e causa.