Quem acha que a Internet é somente uma tecnologia da comunicação não pode deixar de ler este livro de Dominique Wolton. Tudo o que sempre se disse sobre a maior revolução tecnológica da segunda metade do século XX encontra uma nova dimensão nesta obra, ao mesmo tempo, realista, crítica e sem preconceitos. Se você é tecnófobo, entenda o seu mal. Se é tecnófilo, compreenda a sua adesão. Se imagina ser apenas um usuário, perceba as demais implicações do fenômeno. Se acha que se trata apenas de um instrumento, aproveite para rever os seus conceitos. Wolton quer pensar criticamente o depois da Internet como agora da nossa modernidade (a pós-modernidade?). Isso implica a coragem para retomar uma retórica do dever-ser. Não se trata de descrever o que a sociedade é (embora fosse possível defender a qualidade de um tal programa) nem de desconstruir os seus mecanismos de poder e de narrativa, mas de projetar uma existência melhor. Qual é o papel da técnica na construção desse devir? Eis a questão. Na resposta, o autor não cede à vertigem extraordinária da ironia e dos paradoxos, tão deliciosamente próprios da pós-modernidade radical, e combate na trincheira, agora considerada ultrapassada, do bem, do belo e do verdadeiro. Wolton quer democracia e julga que para isso precisa haver identidade, algo que depende da comunicação. A sua equação é cristalina: bem-estar social é igual a democracia (comunicação, tecnologia e informação) mais identidade e densidade da política no cotidiano. Assim, na contramão, às vezes, do entusiasmo dos tecnófilos, e do pessimismo dos tecnófobos, busca uma rede diferenciada de argumentos e de análises. Não seria, contudo, absurdo resumir este livro como uma reflexão sobre o valor social das novas tecnologias da comunicação.